Pedimos para a neuropsicóloga responsável pela Oficina de Memória na Vivere Bene, Patrícia Pegorer, responder a algumas dúvidas comuns quando se fala de memória e perda cognitiva:
Perda de memória e perda cognitiva são a mesma coisa?
Por cognição, entende-se as habilidades como atenção, memória, velocidade de processamento, linguagem, percepção visual, funções executivas (planejamento, organização, controle inibitório).
Existem algumas alterações cognitivas que podem ser observadas no envelhecimento normal, como a redução da velocidade de processamento de informações, dificuldade em manipular informações simultâneas e mudar o foco atencional. Essas alterações vão influenciar em todo o desempenho cognitivo do idoso que pode precisar de mais tempo e mais repetições para reter uma informação nova e pode precisar se ater a uma tarefa de cada vez.
No entanto, no envelhecimento saudável, o idoso mantém a sua funcionalidade sendo capaz de gerenciar finanças e lidar com aspectos de sua vida pessoal. Apesar do envelhecimento predispor a alterações cognitivas gerais, a memória também pode sofrer declínio com a idade e é a função cognitiva que mais recebe atenção.
Quais são as principais causas de perda de memória?
Existem diversas causas para a perda de memória e nem todas estão ligadas ao envelhecimento, como exemplo o traumatismo crânio-encefálico (TCE) ou o Acidente Vascular Cerebral (AVC) que podem ocorrer em qualquer idade e ocasionar problemas de memória dependendo do local da lesão cerebral.
No envelhecimento normal também se espera um declínio da memória. Quando esse declínio está além do esperado, mas em uma fase inicial, pode ser um quadro de Comprometimento Cognitivo Leve. Outra causa da perda de memória e mais conhecida pela população são as demências, entre elas a Doença de Alzheimer.
Como podemos nos prevenir dessa perda de memória no envelhecimento?
A forma como o envelhecimento vai impactar na cognição é muito variável, não há algo específico comprovado que tenha garantia para evitar possíveis declínios. Porém, existem alguns fatores que influenciam os efeitos do envelhecimento na memória e que podem ser protetivos, como a carga genética, escolaridade, nível socioeconômico, ausência de histórico de tabagismo, atividade física frequente, atividades sociais.
Com a aposentadoria e/ou dificuldades visuais/auditivas, o idoso pode se afastar de atividades de estimulação cognitiva, levando ao desuso das habilidades de memória.
Outros fatores, além do declínio natural e de uma demência, podem resultar em problemas de memória, como ansiedade e depressão. Esses dois transtornos mentais podem agravar as queixas de memória do idoso.
Enfim, como forma de prevenção à perda de memória, sugere-se: manter-se ativo em atividades que exigem esforço mental, manter-se ativo fisicamente, manter-se ativo nas relações sociais evitando isolamento e possíveis quadros de ansiedade e depressão, cuidar dos hábitos alimentares, evitar cigarro e bebidas alcoólicas, e manter um sono de qualidade.
Por que pode ser benéfico que o idoso pratique treinos cognitivos?
Estudos demonstram que existe a possibilidade – no envelhecimento saudável – de compensar os déficits cognitivos por meio de treino, ocasionando aumento de desempenho e manutenção das habilidades cognitivas. Isto é, o treino cognitivo realizado de forma regular pode ser eficiente para aprimorar as reservas cognitivas de idosos saudáveis, sugerindo que um processo de reabilitação é possível mesmo sem um diagnóstico de demência.
Como funciona a Oficina de Memória na Vivere Bene?
O trabalho consiste em uma estimulação cognitiva com diversas atividades planejadas para grupos de idosos. O grande propósito é criar um ambiente de estímulo das funções cognitivas e convivência social. A oficina não vai impedir o aparecimento ou progresso de uma doença em curso, mas favorece um envelhecimento saudável e tem benefícios além da cognição: social, autoestima, iniciativa. Havendo suspeita de quadros de demência, recomenda-se que, além da participação nas oficinas coletivas, o idoso passe por avaliação e acompanhamento médico e neuropsicológico individualizado.